16.7.20

Lá vem Ela

/// Lá vem Ela

Lá vem Ela,
Lá vem Ela,
Cheia de gingado e ritmo,
Levantando tudo que é solto.

Direita, esquerda: levou um.
Esquerda, direita: levou mais dois.

Gentes e juras
Afetos e planos
Uns bem firmes,
Outros passados da poda.

Em tempo de Mortes,
A gente bota um café
Pra passar, e senta, pra observar
Seus movimentos.

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16/jul/2020 - São Paulo - 15h17

Leoa na Toca

/// Leoa na Toca

Da sua companhia,
Eu não era da trupe - apenas plateia.
Ainda que presente,
Ainda que pactuada.

Mas atrás das cortinas,
Embaixo deste tapete,
Havia muita avidez e fome e olhos.

A cada noite,
Observando suas derrapadas,
Seus truques de cena.

E guardando na manga
Pr'aquela que seria a maior obra:
O Meu Levante.

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16/jul/2020 - São Paulo - 19h27

8.4.20

Força Bruta Fluída

/// Força Bruta Fluída

Quando em períodos de repressão,
Sob cortinas, substâncias e mantras;

Quando raiva e indignação,
Por anos mascaradas de indiferença;

Quando uma brecha encontra,
Toda água corre solta,
Feito rio a inundar.

Desagua pelas portas,
Pelos muros,
Pelos nãos,
Pelos poréns - tudo aquilo que interrompe.

Só eu conheço essa Força Bruta Fluída.

E por sorte, seguros estão
Enquanto mantenho portas,
Muros, nãos e poréns contidos.

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07/abr/2020 - São Paulo - 23h57

21.11.19

Caraminholas existenciais

/// Caraminholas Existenciais

Um peso nos meus dedos... toneladas na mente... coração ressecado...
- Me ponho ao exercício desgastante & engrenante do expor. -

Por muito tempo, acreditei que os antídotos contra as mazelas eram encontrar o Amor em alguém - amar e ser amado. Eu o encontrei, umas quantas vezes. E quando o encontrei, encontrei também a dor.
Se fui encontrada, não tenho certeza.

Desconfio que eu seja vítima de um hábito; uma forma que aprendi de amar e querer.
Outras vezes, acredito que seja fatal, como um despacho da Fortuna.



- Sei lá, há tanto para dizer e tão poucos para ouvir... -

Tenho memória grande, tipo baú. Dizem que isso é ruim, mas só sei ser assim.
Eu busco e sonho com as mudanças; com mudanças bruscas do meu Eu.
E, todas as vezes que enxergo o/um Caminho, ele é sempre frio e distante.
Ele é sempre o oposto do que fui. E isso por si só, antinatural.

Me falam sobre as medidas temperadas, sobre os níveis.
Conhecer "O Equilíbrio" é uma exigência protocolar dessa época.
Tecem, finitamente, sobre uma alquimia do ser.
Veja: os alquimistas foram ultrapassados, pois a evolução é imparável.
O mundo é imparável. E, diante dele, eu sou pequena.

Tantos desejos pra tão curto tempo e aberturas...
Em mim, habita uma megalomania que reprimo, e que reprimem.
Reprimem, e reprimo.

É inexorável a dança involuntária do tempo, carne-matéria e mente.
Que injusto: todos esses desejos, toda essa mente, condicionados à uma eterna manutenção da matéria.



- Tanto para dizer... -

Em tantos milênios, ocidentais, orientais e acidentais
Tudo já foi dito, e ainda assim,
Não termina a vontade em dizer.



Sou um ser repartido, um ser fragmentado.
Poucas regras quero seguir; muitas estou cansada para quebrar.
Admiro os verborrágicos,
Mas desconfio que se existem, estão deslocados nessa época.
A tônica geral é "seja breve" -
Seja bom ou seja mau, mas seja breve.

Sou um ser amosaicado. Quebrado e semi-conectado.
Veja: em algum momento, isso seria estilo.
Hoje, seria apenas uma condição de desnível -
Mental, cognitivo, intelectual ou emocional.

É que tudo pode ser Tudo.
E esse Tudo, pode ser nada.


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21/nov/19 - São Paulo - 18h15